Acre tem maior taxa de prematuridade no Brasil: o desafio de garantir assistência de qualidade para bebês e famílias

A prematuridade é um desafio de saúde pública no Brasil, onde cerca de 11,57% dos bebês nascem antes das 37 semanas de gestação, colocando o país entre os dez com maior número de nascimentos prematuros no mundo. Esses bebês enfrentam riscos elevados de mortalidade e complicações a longo prazo, como déficits neurológicos e respiratórios, exigindo cuidados intensivos logo após o nascimento.
O Acre ocupa um lugar preocupante no cenário nacional: apresenta a maior taxa de nascimentos prematuros no Brasil. Levantamento feito pela Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade.com), com base nos dados do Data SUS, evidenciando um cenário preocupante.
A análise compreendeu dados de 2017 a 2021 (último ano com informações disponibilizadas no DataSUS) e mostrou que, em uma média dos 5 anos analisados, o Acre aparece com a maior taxa de prematuridade do país – 14,02%. Em seguida, aparecem Roraima (13,98%); Amapá (13,82%); Rio Grande do Norte (12,79%), e, por fim, o Rio Grande do Sul (12,04%).
O que é prematuridade?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como prematuros os bebês que nascem antes de completar 37 semanas de gestação. A prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil no mundo e pode deixar sequelas graves, como complicações respiratórias, dificuldades no desenvolvimento neurológico e maior risco de doenças crônicas ao longo da vida.
Possíveis causas para este cenário?
Especialistas apontam múltiplos fatores que contribuem para a alta taxa de prematuridade no Acre:
Desigualdade social: o acesso limitado a serviços de saúde de qualidade, principalmente nas regiões mais remotas, dificulta o acompanhamento pré-natal adequado.
Gravidez em idades extremas: adolescentes e mulheres acima dos 35 anos.
Condições de saúde materna: doenças como hipertensão, diabetes gestacional e infecções, associadas a fatores como desnutrição e falta de informação, agravam os índices.
Barreiras logísticas: distâncias extensas entre comunidades e centros médicos tornam o acesso ao atendimento especializado um desafio diário.

O desafio da estrutura de saúde neonatal
A crescente demanda por atendimentos a bebês prematuros é um fator
constante de preocupações em todo o sistema de saúde neonatal. Com taxas
de prematuridade que ultrapassam 11% no Brasil, a pressão sobre leitos de UTI
neonatal, equipamentos e equipes com profissionais especializados é evidente,
trazendo necessidades como: ampliação e modernização das unidades de
atendimento, a obrigatoriedade de uma equipe multidisciplinar completa e
especializada com: neonatologistas, nutricionistas, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas e psicólogos, para garantir que o bebê e sua família recebam o
suporte integral necessário durante a internação na unidade de terapia intensiva
neonatal, quanto no acompanhamento de seguimento após a alta hospitalar.
Estudos demonstram que o cuidado contínuo e coordenado por uma equipe
multidisciplinar completa e especializada reduz significativamente a mortalidade
neonatal, tempo de internação, além de reduzir os indicadores de desnutrição
hospitalar e melhora a resposta a longo prazo dos bebês prematuros. Além disso,
ele favorece a adaptação e o vínculo com os pais, garantindo que recebam o
suporte necessário para lidar com o processo de recuperação e os desafios pósalta.
A implementação desse modelo de cuidado é fundamental para garantir
que os prematuros não apenas sobrevivam, mas também se desenvolvam com
o máximo de qualidade de vida possível.
Especialistas alertam que o planejamento estratégico, a capacitação
contínua de equipes e o fortalecimento da atenção básica, incluindo acesso ao
pré-natal de qualidade, são medidas indispensáveis para equilibrar a demanda.
Iniciativas como a ampliação de bancos de leite humano e a implementação do
método canguru também podem reduzir o impacto desse aumento, promovendo
um cuidado mais humanizado e eficiente.
Sem ações coordenadas, a capacidade de oferecer cuidados adequados
pode ser comprometida, prejudicando diretamente as chances de sobrevivência
e o desenvolvimento saudável desses bebês.
Dentro de uma realidade semelhante encontramos o México. Em ambos os
locais, é evidente a necessidade de uma abordagem integrada e
multidisciplinar que inclua não apenas o cuidado médico intensivo, mas
também suporte nutricional adequado. Eles perceberam que os indicadores de
desnutrição hospitalar só aumentavam como consequência de causas evitáveis,
sendo uma delas a: “falha na terapia nutricional”, se tornando uma das causas
principais da elevação das taxas de mortalidade infantil.
Diante dessa realidade, principalmente pela ausência no país de um
profissional nutricionista com especialização em nutrição neonatal, foi firmado
uma parceria entre a Organização Civil Mexicana de pais e cuidadores de bebês
prematuros, voluntários e profissionais da assistência neonatal e a Associação
Brasileira de pais, familiares, amigos, cuidadores e profissionais de prematuros
para a capacitação de pediatras e neonatologistas em Terapia Nutricional
Neonatal para suprir essa carência de suporte nutricional, garantindo o direito do
prematuro de receber uma assistência nutricional que promova seu crescimento
e desenvolvimento dentro do que recomendado pelas diretrizes da área
neonatal.
Conversamos com a nutricionista, Janilda Moraes, especialista em
nutrição em unidade de terapia intensiva neonatal, que há 15 anos atua na
assistência neonatal e na capacitação de profissionais em todo o Brasil. Além de
ser palestrante em eventos nacionais e internacionais, ela é representante
acreana da Associação Brasileira de pais, familiares, amigos, cuidadores e
profissionais de prematuros (Prematuridade.com) e membro do Grupo de
Supervisores do Programa do Ministério da Saúde: Iniciativa Hospital Amigo da
Criança.
Janilda foi a profissional escolhida para realizar essa capacitação. “Cada
bebê merece um começo de vida digno e de que cada mãe merece ser acolhida
e apoiada. Quando garantimos assistência de qualidade, estamos investindo em
vidas que têm um enorme potencial. Ver um bebê prematuro se desenvolver,
superar desafios e crescer saudável é a maior recompensa. A luta por condições
dignas de atendimento neonatal é, acima de tudo, uma questão de garantir o
direito à vida”, enfatiza, Janilda Moraes.
Um projeto como esse, com alto impacto na assistência dos bebês
prematuros e potencialmente graves chegará em 2025 na Argentina e Costa
Rica, além de continuar sendo fortalecido no México, e Janilda continuará
conduzindo o processo.
Apesar das iniciativas positivas que já estão sendo realizadas no Brasil e
na América Latina, ainda há uma grande lacuna na assistência neonatal,
especialmente no que diz respeito ao suporte nutricional especializado. Tanto no
Acre quanto no México, a ausência de um nutricionista especializado em nutrição
neonatal diretamente ligado à assistência nas unidades de terapia intensiva tem
sido um desafio constante.
Nesse contexto, surge a pergunta: por que não aproveitar a experiência e
a disponibilidade da nutricionista Janilda Moraes, que já tem contribuído
significativamente para a capacitação de profissionais no Brasil e em outros
países da América Latina, para implementar um trabalho estruturado e contínuo
no Acre?
A expertise de Janilda, aliada à sua experiência prática em promover a
terapia nutricional neonatal, poderia transformar a realidade da assistência a
bebês prematuros no estado, contribuindo para uma melhoria significativa nos
cuidados e nos resultados a longo prazo.


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